O San Lorenzo perdeu o 12.º jogador mais icónico

O mundo do futebol despediu-se esta segunda-feira de um adepto especial. Faleceu o Papa Francisco, torcedor incondicional do San Lorenzo de Almagro, clube argentino com o qual manteve, ao longo da vida, uma relação emocional, intensa e inabalável.

Jorge Bergoglio, nome de batismo do Sumo Pontífice, cresceu entre os corredores do estádio Gasómetro, em Buenos Aires, onde assistia aos jogos do San Lorenzo ao lado do pai e do irmão. Era uma tradição familiar que se prolongava no final de cada jogo com uma pizza picante cozida na pedra — um ritual de paixão futebolística que o acompanhou até ao fim.

Fundado por padres salesianos, o clube refletia também os valores comunitários e espirituais que moldaram a vida do futuro Papa. E mesmo depois de abraçar a vida religiosa, Francisco nunca se afastou da sua equipa do coração. Quando ainda era bispo auxiliar de Buenos Aires, costumava marcar presença nas bancadas. “O futebol é uma escola de vida”, dizia.

Durante o centenário do San Lorenzo, celebrou uma missa em honra dos jogadores e dirigentes já falecidos do clube, reforçando o futebol como símbolo de fraternidade, esforço coletivo e união — valores que sempre defendeu dentro e fora dos relvados.

A ligação manteve-se, mesmo depois de ser sido eleito Papa, em março de 2013. Nesse mesmo ano, o San Lorenzo ofereceu-lhe uma camisola personalizada e um cartão de sócio vitalício. No Vaticano, confirmava-se que Francisco continuava a acompanhar os resultados do clube e comentava os jogos com entusiasmo.

Na sua autobiografia lançada em janeiro de 2025, dedicou um capítulo ao futebol. Abordou as raízes italianas da sua família e recordou ainda o impacto da tragédia da equipa do Torino, em 1949.

“Como futebolista deixava muito a desejar, como adepto era indiscutível”, escreveu na sua autobiografia.

Durante o pontificado, usou frequentemente metáforas futebolísticas para transmitir mensagens de fé e humanidade. Falou do jogo limpo, do espírito de equipa e da fé como desporto coletivo. Recebeu camisolas de clubes de todo o mundo, desde Maradona e Ronaldo à seleção argentina. A mais recentemente, do Benfica, quando o clube celebrou 120 anos de existência.

O Papa Francisco foi, até ao fim, um símbolo de como o futebol também pode ser um lugar de fé, memória e identidade. E hoje, o San Lorenzo e o futebol mundial perdem um dos seus mais icónicos adeptos.