A atualidade futebolística brasileira tem sido marcada nos últimos dias pelo mais recente escândalo de corrupção desportiva, que tem trazido à baila nomes de vários jogadores envolvidos no esquema. Mas como funcionava o negócio? Passamos a explicar.
Tendo como objetivo favorecer apostadores em casas de apostas, os atletas eram abordados por intermediários para realizar determinadas ações dentro de campo. Alguns exemplos seriam a atribuição de cartões amarelos, vermelhos e o cometer de grandes penalidades contra a própria equipa.
Por trás de todo o esquema estaria o cabeçilha Bruno Lopez de Moura, parceiro de Camila Silva da Motta, Ícaro Fernando Calixto dos Santos, Luis Felipe Rodrigues de Castro, Victor Yamasaki Fernandes e Zildo Peixoto Neto, indivíduos que ajudavam a assegurar as estratégias e comunicações com intermediários e financiadores.
Estes últimos eram responsáveis por disponibilizar as verbas que eram atribuídas aos jogadores, funcionando como patronos do projeto. Thiago Chambó Andrade, Romário Hugo dos Santos (conhecido por “Romarinho”), e William de Oliveira Souza (apelidado de “McLaren”) são os nomes identificados.
Os crimes foram realizados em vários estados brasileiros, com especial incidência em São Paulo, Santa Catarina, Goiás e Rio Grande do Sul, envolvendo uma verdadeira rede organizada que utilizava sites de apostas comuns para lucrar com as ações já previstas nos acordos feitos com os atletas.
De forma a não identificar os reais beneficiários dos prémios provenientes das apostas, eram utilizadas contas de terceiros para jogar. Até ao momento, foram descobertos jogos manipulados na Série A do Brasileirão, Série B (segunda divisão) e ainda outras partidas pertencentes a campeonatos estaduais.
A lista de atletas corrompidos é já vasta e os pagamentos pelas ações realizadas em campo implicavam vários milhares de euros. Alguns dos acusados já alcançaram acordos com a justiça brasileira, participando agora como denunciantes do caso.
Moraes (Juventude), Kevin Lomónaco (Red Bull Bragantino), Nikolas Farias (Novo Hamburgo) e Jarro Pedroso (ex-Inter de Santa Maria) são os nomes dos colaborantes. Aqui seguem as confissões de cada um dos jogadores:
Moraes:
- Promessa de pagamento de 5.524€. 920€ foram entregues para receber cartão amarelo no Palmeiras x Juventude, do Brasileirão 2022. O cartão foi dado.
- Promessa de pagamento de 9.206€. 3.682€ foram entregues para receber cartão amarelo no Goiás x Juventude, do Brasileirão 2022.
Kevin Lomónaco:
- Promessa de pagamento de 12.889€. 5.524€ foram entregues para levar cartão amarelo no Red Bull Bragantino x América-MG, do Brasileirão 2022.
- Recusou uma proposta para cometer um pénalti no Red Bull Bragantino x Portuguesa, do Paulistão 2023.
Nikolas Farias:
- Promessa de pagamento de 14.730€. 920€ foram entregues para cometer um penálti no Esportivo x Novo Hamburgo, do Gauchão 2023. O penálti foi feito.
Jarro Pedroso:
- Promessa de pagamento de 12.889€. 5.524€ foram entregues para cometer um penálti no Caxias x São Luiz, do Gauchão 2023. O penálti foi feito.
Contudo, existem vários outros jogadores debaixo de investigação. A lista completa é composta por:
Romarinho (ex-Vila Nova), Joseph (Tombense),Mateusinho (Cuiabá), Gabriel Domingos (Vila Nova), Allan Godói (Sampaio Corrêa), André Luiz (Ituano), Ygor Catatau (Sepahan, Irão), Paulo Sérgio (Operário-PR), Eduardo Bauermann (Santos), Fernando Neto (São Bernardo), Victor Ramos (Chapecoense), Igor Cariús (Sport), Matheus Gomes (Sergipe), Paulo Miranda (Náutico) e Gabriel Tota (Ypiranga-RS).
Existem ainda outros jogadores que, apesar de não terem sido formalmente denunciados, estão presentes em algumas das provas recolhidas por parte das autoridades. Dessa forma, os seus respetivos clubes já se anteciparam e decidiram afastá-los momentâneamente do plantel:
Pedrinho (Athletico Paranaense), Bryan Garcia (Athletico Paranaense), Richard (Cruzeiro), Vitor Mendes (Fluminense), Nino Paraíba (América-MG), Alef Manga (Coritiba), Jesús Trindade (Coritiba) e Raphael Rodrigues (Avaí) são os nomes que se encontram na referida situação.
A Operação Penalidade Máxima, como é conhecida no país, está a ser conduzida pelo Ministério Público do estado de Goiás, que acusa os suspeitos dos crimes de organização criminosa e do delito de “dar ou prometer vantagem patrimonial ou não patrimonial com o fim de alterar ou falsear o resultado de uma competição desportiva ou evento a ela associado”, previsto no Estatuto do Torcedor e que, por si só, prevê 2 a 6 anos de prisão para os envolvidos.
O cabeçilha do esquema, Bruno Lopez, e os financiadores Romarinho e Thiago Andrade encontram-se em prisão preventiva em São Paulo, esperando nesta altura pela sua transferência para uma unidade prisional de Goiás.
A operação continua a decorrer e nas próximas semanas é esperado que sejam divulgadas novas provas e acusações aos arguidos que se encontram sob investigação. Os intermediários responsáveis por estabelecer contactos com os jogadores permanecem anónimos, já que existe uma segunda investigação em curso sob sigilo, com o propósio exclusivo de os identificar.